segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A dúvida filosófica

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"Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que nem sequer a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que ignoramos. Em geral, o estado de ignorância mantêm-se em nós enquanto as crenças e opiniões que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis de modo que não temos nenhum motivo para duvidar delas, nenhum motivo para desconfiar delas e, consequentemente, achamos que sabemos tudo o que há para saber.
A incerteza é diferente da ignorância porque, na incerteza, descobrimos que somos ignorantes, que as nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da realidade, que há falhas naquilo em que acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu como referência para pensar e agir. Na incerteza não sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas situações ou diante de certas coisas, pessoas, factos, etc. Temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos tomados em insegurança.
Outras vezes, estamos confiantes e seguros e, de repente, vemos ou ouvimos alguma coisa que nos enche de espanto e de admiração não sabemos o que pensar ou que fazer com a novidade do que vimos ou ouvimos porque as crenças, opiniões e ideias que possuímos não dão conta do novo. O espanto e a admiração, assim como antes a dúvida e a perplexidade, fazem-nos reconhecer a nossa ignorância e criam o desejo de superar a incerteza.
Quando isto acontece, estamos na disposição de espírito chamada busca da verdade.
O desejo da verdade aparece muito cedo nos seres humanos como desejo de confiar nas coisas e nas pessoas, isto é, de acreditar que as coisas são exactamente tais como as percebemos e o que as pessoas nos dizem é digno de confiança e crédito. Ao mesmo tempo, nossa vida quotidiana é feita de pequenas e grandes decepções e, por isso, desde cedo, vemos as crianças perguntarem aos adultos se tal coisa "é de verdade ou é a fingir" (…)
A criança sensível à mentira dos adultos, pois a mentira é diferente do "fingir", isto é, a mentira é diferente da imaginação e a criança sente-se ferida, magoada, angustiada quando um adulto lhe diz uma mentira, porque ao fazê-lo, quebra a relação de confiança e a segurança. (…) Assim, seja na criança, seja nos jovens ou nos adultos, a busca da verdade está sempre ligada a uma decepção, a uma desilusão, a uma perplexidade, a uma insegurança ou, então, a um espanto e uma admiração diante de algo novo ou insólito. "
Marinela Chaui (adaptado)



Pistas para reflexão:
– Definir o conceito de ignorância tendo presente o modo como o mesmo é abordado no texto.
– Comentar os efeitos produzidos pela dúvida. Descortinar se a mesma desempenha um papel positivo ou negativo na procura do conhecimento.
– Descrever o tipo de conhecimento que o senso comum torna evidente. Comentar as suas insuficiências e limitações.
– De que é falamos, segundo o texto, quando queremos referir à "busca da verdade".


( Retirado do site Netprof)


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