quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A alegoria da Caverna - Platão

Imagem retirada dewww.inf.ufsc.br/.../tgs/trab_01/caverna1.jpg

"Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. As suas pernas e os seus pescoços estão acorrentados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo sítio e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo a que se possa, na semi-obscuridade, ver o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguido um muro, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetas. Ao longo desse muro/palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros vêem na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como nunca viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que vêem porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, pergunta Platão, se alguém libertasse um dos prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, o muro, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, por ele seguiria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira no mundo verdadeiro é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, veria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projectadas no fundo da caverna) e que somente agora está a contemplar a própria realidade.
Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros tentariam ridicularizá-lo, não acreditariam nas suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com os seus gracejos, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.
O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das ideias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A interrogação. O que é a visão do mundo real iluminado? A filosofia. Por que é que os prisioneiros ridicularizam, espancam e matam o filósofo (Platão está a referir-se à condenação de Sócrates à morte pela assembleia ateniense?)? Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro. "
Marilena Chaui

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Parabéns... uns atrasados, outros não!!!

Para os meninos e meninas que foram mais crescidinhos desde Setembro (Já sei que vão atrasados) e em especial para o J_UNIT que hoje é pequerrucho!!!! MUITOS PARABÉNS!!!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Romeu e Julieta

Retirado da net

Leia o seguinte diálogo entre Romeu e Julieta.
ROMEU- Olá, Julieta! Tenho dois bilhetes para ir à tourada hoje à noite. Queres ir comigo?JULIETA- Nem pensar, Romeu! As touradas deviam ser proibidas.ROMEU- Porquê?JULIETA- Porque nas touradas fazem-se sofrer os animais de forma voluntária e gratuita.
ROMEU- E depois?ROMEU- Ora essa! Fazer sofrer os animais de forma voluntária e gratuita é errado.
JULIETA- Não achas que o sofrimento animal é um mal? Ou pensas, por acaso, que só os seres humanos têm direitos?
ROMEU- Para mim é muito claro que os animais não têm direitos, pois também não têm deveres.
Responda ao seguinte questionário:
1. Apresente o argumento utilizado pela Julieta no diálogo anterior, tornando explícita qualquer premissa suprimida.Premissa1.___________________________________________________________
Premissa 2 (se for o caso)___________________________________________________________________
Premissa suprimida ( se for o caso)___________________________________________________________________
Conclusão___________________________________________________________
2. Na sua última intervenção Romeu apresenta um argumento com uma premissa suprimida.Torne-a explicita______________________________________________________
3. Aceita o argumento Romeu? Porquê? ___________________________________________________________________
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4. Será que podemos concordar com a conclusão de um argumento válido e não concordar com as premissas? ______Porquê? ___________________________________________________________________
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5. " Se há mal no mundo; Deus existe: Ora Deus não existe. Logo há mal no mundo." É este um argumento válido? ______Porquê? ___________________________________________________________________
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6. " Uma coisa é arte se, e só se, for feita por seres humanos e for bela" É esta uma boa definição de arte? ______Porquê?


Ficha de avaliação elaborada por Aires de Almeida da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A Filosofia Prática



"(…) Tendemos a pensar enquanto vamos fazendo outras coisas.
A experiência é uma grande mestra, mas nem por isso deixamos de ter raciocinar acerca das nossas experiências. Para encontramos o nosso caminho na vida precisamos de ser críticos, de verificar os padrões e de os enquadrar num quadro geral de vivência. (…)
Apesar da sua reputação actual, a filosofia não tem de ser intimidativa, maçadora ou incompreensível. Muitas das obras escritas sobre o assunto ao longo dos anos podem certamente ser incluídas em uma das três categorias mas, no fundo, tratam de todas as perguntas que temos de fazer: O que é uma boa vida? O que é o bem? Qual é o sentido da vida? Porque é que eu existo? Porque é que eu devo fazer o que está certo? E o que é isso, o que está certo? Não são perguntas simples e não é fácil dar-lhes respostas, pois, se fosse, não continuaríamos a meditar sobre elas. Não existem duas pessoas capazes de chegar automaticamente à mesma conclusão. Todos nós dispomos de um sistema de princípios que nos conduz, mesmo que não tenhamos consciência de que ele existe ou não sejamos capaz de dizer em que consiste.
Mas existe algo de maravilhoso, o facto de termos à disposição milhares de anos pensamento, de os maiores cérebros da História se terem dedicado a estes assuntos e terem deixado ideias e orientações para nosso uso. Mas a Filosofia também é pessoal, também somos analistas de nós próprios. Podemos aproveitar tudo o que de outras fontes, mas, para chegarmos a uma forma de lidar com o mundo que nos seja conveniente, temos que pensar pela nossa própria cabeça. A boa notícia é que, com o estímulo adequado, cada um de nós pode, efectivamente, pensar por si próprio."Lou Marinoff, Mais Platão, Menos Prozac


1. Num comentário individual, discuta o modo como a filosofia pode orientar o homem na sua vida quotidiana.
2. Transcreva alguns dos temas, que segundo o texto, podem ser alvo de uma reflexão filosófica.
3. Esclareça porque motivo, a Filosofia nos ajuda a pensar de um modo autónomo.


(Retirado do site Netprof)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A prática discursiva

Imagem retirada de net

"O que é a Filosofia? Aconteceu propor a definição seguinte: a Filosofia é uma prática discursiva (faz-se, como dizia Epicuro através de discursos que tem a vida por objecto, a razão como meio, e a felicidade por fim"Luc Ferry, in Sabedoria dos Modernos.

1. Tendo presente o texto, caracterize a Filosofia.
(Retirado do site Netprof)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A historicidade da Filosofia

Imagem retirada da net



"Todos os filósofos têm em si o erro comum de partir do homem actual e de atingir o objectivo através de uma análise do mesmo. Involuntariamente têm em mente o 'homem' como uma aeterna veritas [verdade eterna], como um invariante no meio da turbulência, como uma medida segura das coisas. Tudo o que o filósofo afirma do homem não passa, no fundo, de um testemunho sobre o homem de um período determinado. A carência de sentido histórico é o erro hereditário de todos os filósofos; muitos aceitam mesmo, inopinadamente, a mais recente configuração do homem, tal como ela surgiu sobre a pressão de determinadas religiões, e até de determinados acontecimentos políticos, como a forma sólida da qual se deve partir. Não querem aprender que o homem foi sujeito de evolução, que também a capacidade de conhecimento sofreu um desenvolvimento progressivo, enquanto que alguns deles tecem mesmo todo o mundo a partir destas capacidades cognoscitivas. Ora, o essencial da evolução humana ocorreu nas épocas primitivas, muito antes dos 4000 anos, que mais ou menos conhecemos; durante este tempo é possível que o homem não tenha mudado muito. Mas o filósofo descobre 'instintos' no homem actual e supõe que eles pertencem aos factos imutáveis do homem e podem, portanto, fornecer a chave para a compreensão do mundo em geral. (…) Mas tudo sofre um devir; não há factos eternos, da mesma forma que não há verdades absolutas. Por conseguinte, o filosofar histórico é necessário desde agora e, com ele, a virtude da humildade."
Nietzsche, Menschliches, p. 234.


1. Tendo presente a historicidade como uma característica inerente a toda reflexão filosófica, comente o seguinte extracto do texto: "Tudo o que o filósofo afirma do homem não passa, no fundo, de um testemunho sobre o homem de um período determinado. A carência de sentido histórico é o erro hereditário de todos os filósofos."


(Retirado do site Netprof)

A dúvida filosófica

http://cosmobranche.free.fr/images/tree_brain.jpg



"Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que nem sequer a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que ignoramos. Em geral, o estado de ignorância mantêm-se em nós enquanto as crenças e opiniões que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis de modo que não temos nenhum motivo para duvidar delas, nenhum motivo para desconfiar delas e, consequentemente, achamos que sabemos tudo o que há para saber.
A incerteza é diferente da ignorância porque, na incerteza, descobrimos que somos ignorantes, que as nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da realidade, que há falhas naquilo em que acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu como referência para pensar e agir. Na incerteza não sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas situações ou diante de certas coisas, pessoas, factos, etc. Temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos tomados em insegurança.
Outras vezes, estamos confiantes e seguros e, de repente, vemos ou ouvimos alguma coisa que nos enche de espanto e de admiração não sabemos o que pensar ou que fazer com a novidade do que vimos ou ouvimos porque as crenças, opiniões e ideias que possuímos não dão conta do novo. O espanto e a admiração, assim como antes a dúvida e a perplexidade, fazem-nos reconhecer a nossa ignorância e criam o desejo de superar a incerteza.
Quando isto acontece, estamos na disposição de espírito chamada busca da verdade.
O desejo da verdade aparece muito cedo nos seres humanos como desejo de confiar nas coisas e nas pessoas, isto é, de acreditar que as coisas são exactamente tais como as percebemos e o que as pessoas nos dizem é digno de confiança e crédito. Ao mesmo tempo, nossa vida quotidiana é feita de pequenas e grandes decepções e, por isso, desde cedo, vemos as crianças perguntarem aos adultos se tal coisa "é de verdade ou é a fingir" (…)
A criança sensível à mentira dos adultos, pois a mentira é diferente do "fingir", isto é, a mentira é diferente da imaginação e a criança sente-se ferida, magoada, angustiada quando um adulto lhe diz uma mentira, porque ao fazê-lo, quebra a relação de confiança e a segurança. (…) Assim, seja na criança, seja nos jovens ou nos adultos, a busca da verdade está sempre ligada a uma decepção, a uma desilusão, a uma perplexidade, a uma insegurança ou, então, a um espanto e uma admiração diante de algo novo ou insólito. "
Marinela Chaui (adaptado)



Pistas para reflexão:
– Definir o conceito de ignorância tendo presente o modo como o mesmo é abordado no texto.
– Comentar os efeitos produzidos pela dúvida. Descortinar se a mesma desempenha um papel positivo ou negativo na procura do conhecimento.
– Descrever o tipo de conhecimento que o senso comum torna evidente. Comentar as suas insuficiências e limitações.
– De que é falamos, segundo o texto, quando queremos referir à "busca da verdade".


( Retirado do site Netprof)


sábado, 11 de outubro de 2008

Filosofia espontânea e filosofia sistemática


Foto retirada da net



"O que importa é incitar toda a gente a servir-se do seu raciocínio. Sempre que alguém procura forjar a sua própria opinião, incitá-lo a argumentar. É irrelevante, pois, saber se, ao agir desse modo, essa pessoa está, ou não, a filosofar.
Em contrapartida, o que me parece relevante é que esse exercício do espírito não se torne o domínio reservado de uns tantos privilegiados. Reservar a filosofia aos que se dizem filósofos seria tão ridículo como proibir de cozinhar o que não são cozinheiros profissionais.
Creio que todos os homens são filósofos, ainda que uns mais do que outros. (…)
Todos os homens são filósofos. Mesmo quando não têm consciência de terem problemas filosóficos, têm, em todo caso, preconceitos filosóficos. A maior parte destes preconceitos são as teorias que aceitam como evidentes: receberam-nas do seu meio intelectual ou por via da tradição.
Dado que só tomamos consciência de algumas dessas teorias, elas constituem preconceitos no sentido de que são defendidas sem qualquer verificação crítica, ainda que sejam de extrema importância para a acção prática e para a vida do homem.
Uma justificação para a existência da filosofia profissional ou académica é a necessidade de analisar e de testar criticamente estas teorias divulgadas e influentes."

Karl Popper, Em Busca de um Mundo Melhor



1. Qual é segundo Karl Popper, a principal exigência para a "filosofia profissional".


(Retirado do site Netprof)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O sentido crítico

Imagem retirada da net




"Muitas vezes examinam crenças que quase toda a gente aceita acriticamente a maior parte do tempo. Ocupam-se de questões relacionadas com o que podemos chamar vagamente "o sentido da vida"; questões acerca da religião, do bem e do mal, da política, da natureza do mundo exterior, da mente, da ciência, da arte e de muitos outros assuntos. Por exemplo, muitas pessoas vivem as suas vidas sem questionarem as suas crenças fundamentais, tais como a crença de que não deve matar. Mas por que razão não se deve matar? Que justificação existe para dizer que não de deve matar? Não se deve matar em nenhuma circunstância? E, afinal, que quer dizer a palavra "dever" Estas são questões filosóficas. Ao examinarmos as nossas crenças, muitas delas revelam fundamentos firmes; mas algumas não. O estudo da filosofia não só nos ajuda a pensar claramente sobre os preconceitos, como ajuda a clarificar de forma precisa aquilo em que acreditamos. Ao longo desse processo desenvolve-se uma capacidade para argumentar de forma coerente sobre um vasto leque de temas - uma capacidade muito útil que pode ser aplicada em muitas áreas."
Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia

1. Partindo do texto, identifique os problemas sobre os quais a Filosofia deve reflectir.
2. Produza um texto, onde torne evidente o modo como a Filosofia deve actuar face a esses problemas.

(Retirado do site Netprof)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Filosofia versus Ciência

Imagem retirada da net
"O núcleo da filosofia reside em certas questões que o espírito reflexivo humano acha naturalmente enigmáticas, e a melhor maneira de começar o estudo da filosofia é pensar directamente sobre elas. Uma vez feito isso, encontramo-nos numa posição melhor para apreciarmos o trabalho de outras pessoas que tentaram solucionar os mesmos problemas.
A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E, ao contrário da matemática, não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.
A preocupação fundamental da filosofia consiste em questionarmos e compreendermos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas. Um historiador pode perguntar o que aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: o que é o tempo? Um matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: o que é um número? Um físico perguntará de que são constituídos os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como é que as crianças aprendem uma linguagem, mas um filósofo perguntará: "Que faz uma palavra significar qualquer coisa?"Qualquer pessoa pode perguntar se entrar num cinema sem pagar está errado (mal), mas um filósofo perguntará: "O que torna uma acção certa ou errada (boa ou má)?""
T. Nagel, Que Quer Dizer Tudo Isto? Uma Iniciação à Filosofia, 1995

1. Explique por palavras suas, qual as principais diferenças entre a Filosofia e a Ciência.
2. Tendo o texto como referência, elucide como funciona o método da Filosofia.

(Retirado do site Netprof)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Para que serve filosofiar?



Foto retirada da Net






Vivemos num mundo cada vez mais materialista e interrogamo-nos cada vez menos sobre questões essenciais. Acham que perdemos a capacidade de filosofar?


Pedro Amaral (PA): Eu acho que não. Primeiro, porque a capacidade individual que cada um tem de se questionar é intemporal. Depois, e ao contrário do que possa parecer, porque uma sociedade materialista incita à reflexão.
José Pedro Serra (JPS): Podemos colocar a pergunta num plano puramente sociológico e tentar saber até que ponto as condições concretas em que vivemos permitem, a cada um de nós, um pensamento efectivo, e não apenas o uso mecânico da razão. No entanto, antes desse plano sociológico, eu vejo a filosofia, não como uma capacidade, mas como uma fatalidade. Desde que o gregos inventaram "isso" da filosofia que ela corresponde a um modo de interrogação, que não depende de uma capacidade nossa, mas é herdeira de uma história que é a nossa história. A nossa história é filosófica e, nesse sentido, não há outra forma de estar senão dentro do trilho da filosofia. O que podemos, então, discutir é até que ponto as condições concretas do momento favorecem o exercício de um pensar. Não tenho dúvidas, qualquer que seja o juízo sobre a nossa civilização, que nascemos no poço de Tales de Mileto e que não é possível libertamo-nos dessa fatalidade. Perguntar "o que é" situa-nos no trilho da filosofia. Foi a filosofia que nos ensinou a perguntar "o que é". Os gregos diziam que esse momento radicava no espanto (...)
PA: Qual é exactamente e expressão do espanto de que falava há pouco?
JPS: É a pergunta. A pergunta nasce do espanto.
Mas o espanto pode dar-se a vários níveis... Pode ser um espanto perfeitamente comum.
JPS: Mas o que eu acho é que temos estado a dizer, que as pessoas não pensam, ou pensam pouco.
Não é bem que não pensam, é que não se questionam...
JPS: Sim, mas qual a diferença entre isso e os diálogos socráticos escritos cinco séculos antes de Cristo? Aquilo que Sócrates fazia na rua o que era senão pôr os outros a pensar? O que é a "Republica" de Platão senão a tentativa, em última análise, de conduzir aqueles não pensam? Não vejo grande diferença entre o que se passava ontem e o que se passa hoje. Isto é, o movimento que faz nascer esse pensar é um movimento de sofrimento, é um parto, um parto muito doloroso. Ontem, como hoje, o filósofo morreu. Quem ganhou foram os sofistas. Também aconteceu no tempo de Sócrates. A retórica política de que estamos a falar não é uma invenção do século XX, ou XXIPerdemos a capacidade de filosofar?



In Revista Pública, 07-10-2007





1. O que significa afirmar que a Filosofia corresponde a um "modo de interrogação"?
2. Explicite a importância do conceito de espanto para o exercício da actividade filosófica.
3. Considera que, tal como é referido no texto, o filósofo morreu na época contemporânea. Justifique a sua opinião.



(Ficha retirada do site Netprof)

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A Filosofia e a ciência

© DR Edit on Web





"Lá porque a ciência é experimental e incapaz de resolver questões fundamentais, não é razão para, fazendo diante delas um gracioso gesto de raposa para as uvas demasiado altas, as chamar "mitos" e nos convidar a abandoná-las. Como se pode viver surdo às derradeiras, dramáticas perguntas? Donde vem o mundo? Para onde vai? (...) Precisamos de uma resposta íntegra, não de um horizonte a que se amputou a palpitação incitadora das verdadeiras lonjuras. Sem pontos cardeais, os nossos passos careciam de orientação. E não é pretexto para essa insensibilidade relativamente às últimas questões declarar que não se encontrou maneira de as resolver (...) Quero com isto dizer que não nos é permitido renunciar à adopção de posições perante os temas últimos: queiramos ou não, com um rosto ou outro, incorporam-se em nós. A "verdade científica" é uma verdade exacta mas incompleta e penúltima, inexacta, à qual não haveria inconveniente em chamar "mito". A "verdade científica" flutua pois, em mitologia e a própria ciência como totalidade é um mito "admirável mito europeu. ""



Ortega e Gasset, Que es la Filosofía



1. Partindo do texto discuta as diferenças entre o modo de actuar da ciência e da filosofia.
2. Redija um texto pessoal (ou expositivo argumentativo), procurando responder às questões levantadas pelo texto acima transcrito:
– Como se pode viver surdo às derradeiras, dramáticas perguntas?
– Donde vem o mundo?
– Para onde vai?


(Retirado do site Netprof)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Filosofia ... porque e para quê?

Imagem retirada da net




"Hoje em dia, nos finais do século XX ou no início do século XXI, fará sentido insistir em manter a filosofia como mais uma disciplina no secundário? Será apenas um vestígio do passado que os conservadores exaltam pelo seu prestígio tradicional mas que os progressistas e as pessoas práticas devem olhar com justificada impaciência? Poderão os jovens, ou melhor os adolescentes e até as crianças concluir alguma coisa daquilo que, para a sua idade, é uma grande confusão? Na melhor das hipóteses não se limitarão apenas a memorizar algumas fórmulas pedantes que depois irão repetir como papagaios? Talvez essa filosofia interesse a alguns, aos que têm vocação filosófica, se é que isso ainda existe, mas esses terão de qualquer forma tempo para descobri-la mais tarde. Então, porquê impô-la a todos no ensino secundário? Não será uma perda tempo caprichosa e reaccionária, uma vez que os programas actuais do secundário estão tão sobrecarregados? O curioso é que os primeiros adversários da filosofia reprovavam-lhe precisamente ser "coisa de crianças", adequada como passatempo formativo nos primeiros anos mas imprópria de adultos feitos e perfeitos. Por exemplo, o caso de Calicles que pretendia rebater a opinião de Sócrates de que "é melhor causar uma injustiça do que provocá-la". Segundo Calicles, o que é verdadeiramente justo, o que for que as leis digam sobre isso, é que os mais fortes se impunham aos mais débeis, os que valem mais aos que valem menos e os capazes aos incapazes. A lei dirá que é pior cometer uma injustiça que sofrê-la mas o natural é considerar que é pior sofre-la do que cometê-la. O resto são bagatelas filosóficas para os quais o já adulto Calicles guardava todo o seu desprezo:"A filosofia é certamente, amigo Sócrates, uma ocupação grata se alguém se dedica a ela com moderação, nos anos juvenis, mas quando se lhe dedica mais tempo que o devido é a ruína dos homens". Cálicles, aparentemente não vê nada de mau em ensinar filosofia aos jovens, embora considere o vício de filosofar um pecado ruinoso quando já se é adulto. (...)Se se quiser resumir todas as censuras contra a filosofia em poucas palavras, bastam estas: não serve para nada. Os filósofos preocupam-se em saber mais que ninguém sobre tudo o que se possa imaginar embora na realidade sejam apenas charlatães amigos da conversa oca. Sendo assim, quem sabe realmente o que há para saber sobre o mundo e a sociedade? Na verdade são os cientistas, os técnicos, os especialistas, aqueles que são capazes de dar informações válidas sobre a realidade. No fundo, os filósofos preocupam-se em falar do que não sabem: o próprio Sócrates assim reconhecia, quando dizia "só sei que nada sei". Se nada sabe, para quê escutá-lo, sejamos jovens ou adultos? O que temos que fazer é aprender dos que sabem dos que não sabem. Sobretudo hoje em dia, que as ciências estão tão avançadas e já sabemos como funcionam a maioria das coisas ...e como fazer funcionar outras, inventadas por cientistas aplicados. Assim, portanto, na época actual, a época das grandes descobertas técnicas, no mundo do microchip e do acelerador de partículas, no reino da Internet e da televisão digital...que informação podemos receber da filosofia? A única resposta que nos conformaremos a dar é a que provavelmente teria dado Sócrates: nenhuma. Fornecem-nos informação as ciências da natureza, os técnicos, os jornais e alguns programas de televisão...mas não informação filosófica. Segundo afirmou Ortega, atrás citado, a filosofia é incompatível com as notícias e a informação é feita de notícias. Muito bem, mas será informação aquilo que procuramos para nos entendermos melhor a nós próprios e ao que nos rodeia? Suponhamos que recebemos uma notícia qualquer, esta por exemplo: um número de pessoas morre diariamente de fome em todo o mundo. E nós recebida a informação, perguntamos a alguém ou a nós próprios o que devemos pensar acerca desse acontecimento. Obteremos opiniões, algumas das quais nos dirão que tais mortes se devem a desajustes no ciclo macroeconómico global, outras falarão da superpopulação do planeta, algumas gritarão contra a injusta partilha de bens entre os que possuem e os que nada têm, ou invocarão a vontade de Deus, ou mesmo a fatalidade do destino... E não faltará alguma pessoa simples e pura, como o nosso porteiro ou o homem do quiosque que nos vende os jornais, para comentar: "Em que mundo vivemos! Então nós, como um eco, mas mudando a exclamação por uma interrogação perguntar-nos-emos: "Isso: em que mundo vivemos?". "




Fernando Savater, As Perguntas da Vida, (Uma Iniciação Filosófica), Lisboa, Publicações D. Quixote, pp. 15 a 17.




Sugestões:




1. "Se se quiser resumir todas as censuras contra a filosofia em poucas palavras, bastam estas: não serve para nada." Depois de ter estudado o sentido e a "utilidade" da filosofia no mundo contemporâneo, concorda com as críticas que são dirigidas à filosofia que estão patentes no texto? Justifique a sua opinião. 2. "Em que mundo vivemos! Então nós, como um eco, mas mudando a exclamação por uma interrogação perguntar-nos-emos: "Isso: em que mundo vivemos?". Explique o motivo pelo qual o autor refere o facto de em filosofia ser necessário "mudar a exclamação pela interrogação"?



(Retirado do site Netprof)