segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Moral Kantiana


Kant foi um filósofo do século XVIII, integrado no Movimento das Luzes, defensor da liberdade e da emancipação do homem. “Ousa pensar” é o lema kantiano, o qual pretende que o homem pense por si mesmo, que desperte a razão humana, lutando contra os preconceitos, contra o que é imposto exteriormente à razão. Para Kant, o homem deve pensar por si mesmo, fazer uso da sua própria razão. Desta forma, Kant propôs uma ética autónoma, formal oposta às éticas materiais.
Para Kant, o homem que se guia por éticas materiais não tem autonomia da razão, isto é, não possui uma razão livre para decidir por si; obedecendo apenas às inclinações (associadas ao corpo).
Kant irá propor uma ética racional, a qual será universal e com capacidade de restituir ao homem o poder de decidir livremente.
Este filósofo fala-nos de uma concepção dualista do homem, isto é o homem apresenta uma disposição para a animalidade (corpo/exterioridade) e para a humanidade (razão/interioridade). Na animalidade, o homem é visto enquanto realidade empírico-sensível (material) que dispõe de um corpo dotado de apetite, impulsos, desejos, ligados às necessidades de ordem biológica. Na humanidade, integra-se a parte racional do homem, onde reside a autonomia, a liberdade e consciência, numa palavra, a capacidade de agir moral do homem. Nesta medida, o homem deve ter forças para seguir os ditames (ordens) da razão, ainda que os apetites e as inclinações biológicas ameacem desviá-lo para uma direcção diferente.


DEVER

O respeito pelo dever é uma noção central na ética kantiana. Kant distingue no homem três espécies de acção:
1º Acção contra o dever – É o que acontece quando o comerciante explora os clientes, cobrando preços abusivos. Esta acção é destituída de valor moral.
2º Acção conforme ao dever - Esta acção não tem valor moral porque ela não passa de um meio para alcançar um fim exterior à acção. O comerciante que mantém os preços para assegurar os seus clientes e ter novos/futuros cliente.
3º Acção por dever – è a acção verdadeiramente moral, pois o seu valor reside na própria acção. É praticada por respeito ao dever, ela é um fim em si mesmo e não um meio para obter recompensa. É executada de acordo com a boa vontade. O comerciante que não vende caro porque é esse o seu dever.

Kant considera que o homem só age bem se actuar por dever. Agir por dever é agir por respeito à lei moral e não por submissão ao fim a atingir.

IMPERATIVO CATEGÓRICO

Máximas:

1ª Age sempre segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que ela se torne uma lei universal.

2ª Age sempre de maneira a tratar a humanidade tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio.

Os imperativos são formais, isto é são vazios de conteúdo. Nenhum faz referência ao que se pode atingir com as acções praticadas. Eles não estabelecem nenhuma norma particular para esta ou aquela acção, estabelecem a forma que deve presidir a qualquer um dos nossos actos. Assim, os imperativos morais são “a priori”, ou seja, a sua validade não depende da experiência. Conferem àquelas regras carácter incondicional, pelo que surgem como aconselhamentos válidos para todas as pessoas. São normas válidas independentemente do que quer que seja e têm aplicação universal.
O imperativo categórico evidencia a ideia de homem como fim. Não devemos instrumentalizar as pessoas, isto é, fazermos delas um meio de alcançar certos objectivos. A pessoa considerada como fim constitui-se como objectivo a que tudo se deve subordinar.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Exposição "Picasso La Danza"


Aproveitando o Sol e o dia espectacular que teve ontem nada melhor que fazer outra aula no exterior e por mais uma razão deveras importante ... não é todos os dias que temos o privilégio de entrar em contacto directo com as obras de Picasso e por isso fui com uma das minhas turmas ver a Exposição "Picasso La Danza" que consiste em telões, figurinos e gravuras para o bailado Le Tricorne que pertence à colecção Bancaja.
Como devem imaginar não é fácil sensibilizar um grupo de adolescentes na casa dos 16/17 anos para este tipo de exposição, mas esta reunia algo fabuloso a pintura, a música clássica, o bailado , a gravura e claro, Picasso!
Como é do conhecimento geral Picasso manifestou um interesse especial pelas Artes Cénicas, nomeadamente a nível dos telões de cena, cenários e trajes para vários bailados devido à sua colaboração com Serge Díaghílev. Este último foi um elemento aglutinador de várias figuras das artes, música, dança e pintura originando assim um novo conceito e dimensão de bailado. Na produção dos seus bailados reuniu os melhores criadores como Picasso e Coco Chanel.
Le Tricorne, o segundo de quatro bailados para os Ballets Russes , com cenários e figurinos de Picasso estreou-se em Londres a 12 de Julho de 1919, com música de Manuel de Falla. O argumento é inspirado na obra de Pedro António de Alarcón, "El Sombrero de Três Picos" (O Chapéu de Três Bicos), que narra as intrigas amorosas de um moleiro, da sua mulher e de um corregedor. Este bailado possui um conteúdo sócio-político, o triunfo do povo sobre a decadente monárquia, mas como pretexto de mostrar a singularidade do folclores espanhol.
O cenário pálido e neutro faz ressalvar as cores dos trajes e o conceito cubista de Picasso encontra-se patente na apresentação do espaço e da perspectiva.
Os figurinos de inspiração Goyesca representam as diversas regiões espanholas, provocando um deslumbramento visual devido às suas estruturas tridimensionais.
Os meus alunos adoraram ver este figurino e para meu espanto assitiram ao Bailado quietinhos e caladinhos ...
Depois passámos para a Sala 2, onde nos esparavam as gravuras, ao entrarmos ...
Ouvi alguém dizer ...:
- Oh, Storita ... mas isto é muito à frente ... o homem via as mulheres assim ... coitado!
Claro que eu e a equipa que nos fez a visita guiada, espectaculares sem dúvida, fartamo-nos de rir ... pois eles viam ao pormenor cada gravura e diziam que Picasso devia ter cá um andamento ... claro, gargalhada geral!
O que vimos foram as gravuras das Suites 347 e 156 muito interessantes, com um traço espectaculares e de cariz bastante erótico ... por isso o entusiasmo!
Estas gravuras foram feitas nos anos de 1968 e 1970 cujo o tema retratado é a dança, como recordação da sua juventude e provavelmente para superar a velhice ... eis um contemplador de mulheres, da dança, do erótico ...
Foi uma visita interessante e muito didáctica do ponto de vista histórico e estético. Os meus "meninos" adoraram e eu também!
Aconselho vivamente a passarem por lá ... Galeria Municipal Paços do Concelho em Torres Vedras de segunda a sábado das 9.30h às 19.00h.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Estrutura da consciência moral


A consciência moral possui uma estrutura:

- complexa - porque constituída por elementos de diferentes níveis do nosso psiquismo.

- evolutiva - porque vai amadurecendo em função dos resultados da acção e das suas próprias experiências.

- dialéctica - porque os seus elementos interagem uns com os outros, intensificando-se ou inibindo-se, e porque os sentimentos e raciocínios pessoais se constituem em função das pressões e normas sociais.


Ela é simultaneamente pessoal e social, sendo algo de interior, de subjectivo, de íntimo, possui também uma dimensão comunitária dado que resulta, em parte, de um processo de interiorização e de assimilação das normas sociais. Mas uma vez constituída motiva igualmente comportamentos sociais positivos. Suponhamos que não possuíamos consciência moral. Como poderíamos coexistir com outras pessoas? As relações sociais seriam então reguladas somente pela força, pela violência, pela agressão, etc. Seria possível viver assim? E se fosse, valeria a pena viver num tal ambiente de guerra e de violência? É óbvio que a espécie humana não subsistiria durante muito tempo nessas condições.

Parece então que VALORES, como LEI, ORDEM, CONTRATO, RESPEITO MÚTUO, TOLERÂNCIA, têm de ser reconhecidos como algo que vale a pena respeitar.

Mas para serem respeitados, "reconhecidos" tem de haver um mínimo de consciência moral que os aceite como valores e que guie a acção humana em função deles.

A consciência moral faz de nós agentes morais ou pessoas. È porque podemos livremente optar por fazer isto ou aquilo, que podemos ser responsabilizados pelas consequências dos nossos actos.

A consciência moral - qual a sua origem?

Foto retirada da net

Na estrutura da acção humana, encontramos vários níveis ou dimensões:

- a dimensão do agir considerado como o agir da consciência, corresponde a acção moral.

- é a este nível da acção que se refere a dimensão ética do agir, a acção que é possível pela liberdade.

Ao falarmos de valores do mundo contemporâneo, viu-se que actualmente se assiste a uma polarização em novos valores mais ligados ao desenvolvimento da personalidade íntima. Houve uma mudança nas concepções morais e as consciências individuais já não se indignam com comportamentos que outrora eram motivo de repúdio. Houve, portanto, uma mudança na mentalidade social quanto ao que é moral ou imoral.

Quem ajuíza moralmente julga a partir da sua consciência, a partir de uma certa escala ou tábua de valores subjectivamente assumidos. Estes fornecem os critérios para julgar acerca do bem e do mal dos nossos comportamentos e servem também de fundamento aos raciocínios que justificam a escolha moral numa dada situação.

A dimensão ética do agir está intimamente associada a uma forma peculiar da nossa consciência que nos "DIZ" o que devemos ou não fazer, ou, quando fazemos algo, nos passa uma "reprimenda interior" ou nos faz um "elogio" consoante julga que agimos bem ou mal.

A consciência moral aparece assim à nossa experiência como uma espécie de "Juiz interior" que nos ordena o que deve ser, parecendo assim desempenhar uma função essencialmente crítica do agir.

Como se vai estruturando a consciência moral?

O pensamento moral está sujeito a um processo de desenvolvimento que passa por várias etapas ou estádios. A progressão nos estádios está ligada ao desenvolvimento da consciência reflexiva racional e ao tipo de relações sociais em que o indivíduo se insere. De modo geral, esta progressão orienta-se numa direcção que vai da HETERONOMIA para a AUTONOMIA.

A consciência moral vai evoluindo de um "medo irracional" do castigo e de uma interiorização das normas para, na sua fase mais elevada a quem nem todos chegam, uma AUTODETERMINAÇÃO em função de PRINCÍPIOS MORAIS racionalmente justificados.

A consciência moral é composta por sentimentos morais, raciocínios morais e normas morais interiorizadas e sujeitas a pressão social. Se a consciência moral é constituída por três tipos de elementos, sentimentos, raciocínios e normas, isto significa que há nela uma dimensão que não se deixa reduzir à pura racionalidade.

O resultado de uma acção orientada por sentimentos a raciocínios morais altera o modo de percepção do estímulo e pode aguçar ou embotar os sentimentos e alterar as normas.

Assim, consciente e responsável são dois conceitos inseparáveis. Porque só aquele que reconhece os actos como seus e sabe distinguir uma boa acção de uma má acção é que pode dar razões da sua conduta, é que pode ser responsabilizado. Por isso, CONSCIÊNCIA é um termo que significa fundamentalmente duas coisas:

- "ter consciência de algo", é dar-se conta, saber lago. O não saber, o não dar-se conta é estar inconsciente (psicologia).

- como significado moral significa a FACULDADE que possuímos de julgar em nós mesmos o que é bom ou mau, é a nossa bússola moral, uma voz interior que nos aplaude ou repreende.

Por RESPONSABILIDADE, RESPONSÁVEL entende-se:

- comprometer-se perante alguém em retorno de ...

- a capacidade e obrigação de responder ou prestar contas pelos próprios actos e seus efeitos aceitando as suas consequências.

- Só uma pessoa pode ser responsável; e é-o fundamentalmente por si mesma e perante si "em primeira pessoa", pelo que é intransmissível.

SENTIDO E ORIGEM DA VOZ DA CONSCIÊNCIA:

Os filósofos investigaram em que sentido se pode falar de uma voz da consciência e, sobretudo, qual é a origem dessa voz. A voz da consciência foi entendida ao longo do pensamento filosófico como:

- sanção correctora dos nossos actos;

- como faculdade que julga a moralidade das nossas acções;

- como intuição moral, etc.

Quanto à origem da consciência moral:

- Pode ser concebida como Inata. Supõe-se que, pelo mero facto de se existir, todos os homens possuem uma consciência moral;

- Pode ser concebida como ADQUIRIDA. Pode considerar-se que se adquires pela educação de potências morais inscritas no homem, ou pode supor-se que se adquire no decurso da história, da evolução natural das relações sociais, etc.

- A sua origem pode ser atribuída a uma entidade divina. Supõe-se em tal caso que Deus depositou no homem a "centelha de consciência", por meio da qual se descobre se um acto é justo ou injusto.

A dimensão ético-política

Foto retirada de http://olhares.aeiou.pt/

Texto I

"De todo o homem que atingiu a idade da razão se deve esperar que tenha considerado, reconhecido e cumprido os mandamentos e rejeitado o que é proibido. É-lhe exigido que responda pelo seu comportamento e que aceite as suas consequências. A fuga à responsabilidade é o mais claro indício de falência da maturidade moral. Só pela aceitação nos libertaremos, só pela participação responsável na vida do Estado nos tornaremos cidadãos; só pela da responsabilidade pelas nossas acções nos tornaremos pessoas." F. Heinemann

1. Tendo presente o texto, diga o que entende por responsabilidade.

2. Comente a importância que desempenha a responsabilidade na formação do conceito de pessoa.

Texto II

"Facilmente reconheceremos na distinção entre o objectivo de uma vida boa e a obediência às normas, a oposição entre duas heranças(...) onde a ética se caracteriza pela sua perspectiva teológica (...) e onde (...) é definida pelo carácter de obrigação da norma, logo numa perspectiva deontológica."
Paul Ricoeur, Éthique et Morale in Revista Portuguesa de Filosofia Janeiro/ Março, 1990, pp. 5-8.

1. Explicite a relevância do texto em função dos dois modelos éticos implícitos.

Texto III

"A consciência moral manifesta a autonomia e heteronomia do homem(...) A lei que nos obriga ultrapassa-nos, não a fizemos: as suas leis não são mandamentos de polícia, impostos do exterior. As suas ordens encontraram em nós cumplicidade."G. Madiner

1. Com base no texto, clarifique a distinção entre fundamento teológico e fundamento racional da moral.

(Retirado do site Netprof)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Pessoa e responsabilidade

Foto retirada de http://olhares.aeiou.pt

"De todo o homem que atingiu a idade da razão se deve esperar que tenha considerado, reconhecido e cumprido os mandamentos e rejeitado o que é proibido. É-lhe exigido que responda pelo seu comportamento e que aceite as suas consequências. A fuga à responsabilidade é o mais claro indício de falência da maturidade moral. Só pela aceitação nos libertaremos, só pela participação responsável na vida do Estado nos tornaremos cidadãos; só pela da responsabilidade pelas nossas acções nos tornaremos pessoas."F. Heinemann

1. A partir do texto diga o que entende por responsabilidade.
2. Discuta a importância do conceito de responsabilidade na formação do conceito de pessoa.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Noção de pessoa

Foto retirada de http://olhares.aeiou.pt

A noção de pessoa envolve as mais dignas características do ser humano, que o tornam um ser supremo, fonte e critério de toda as valorações que possamos efectuar.
Complete utilizando os seguintes conceitos: abertura ao outro, interioridade, singularidade, unidade, projecto/possibilidade, autonomia.

1- Cada ser humano é uma essência Individual. O que faz de cada um de nós um ser único, irrepetível e insubstituível.

2 - Cada ser humano é um micro cosmos, um centro de decisão, uma totalidade concreta, uma unidade psicológica e moral.

3 - O ser humano é o centro de decisão e de acção, já que revela ser o princípio e a causa do seu agir. O ser humano é efectivamente capaz de se autodeterminar.

4- Cada ser humano possui um campo, que é a consciência, que se traduz numa local de reserva e de intimidade que é inacessível e inviolável.

5- Só somos verdadeiramente pessoas na relação que estabelecemos com os outros. O ser humano caracteriza-se pela sua singularidade, unidade e autonomia.

6 - Nós não nascemos pessoas. Ser pessoa não é algo de adquirido, é uma das possibilidades que cada sujeito deve realizar.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ficha de Revisões

Foto retirada de http://olhares.aeiou.pt, autoria de vitor tripologos
  1. Define juízo de valor e de facto. Dá exemplos.
  2. Explica as características dos valores.
  3. Será que os valores dão sentido à nossa vida?
  4. Estabelece a relação entre sociedade e cultura.
  5. Esclarece as diversas atitudes face à diversidade cultural, apontando os seus limites e consequências.
  6. Enquandra factos históricos e sociais em cada uma destas atitudes.
  7. O que é a Moral? E a Ética?

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O filme "Neste Mundo"


Após ter passado o filme "Hotel Ruanda e ainda a propósito da discriminação, da diversidade cultural decidimos então passar este belíssimo e comovente filme.Dois primos deixam o Paquistão e iniciam uma viagem rumo a Inglaterra, em busca de uma vida melhor.
Jamal (Jamal Udin Torabi) e Enayat (Enayatullah) são dois primos que vivem na cidade de Peshawar, na fronteira do Paquistão, e que são enviados à Inglaterra para ter uma vida melhor. O roteiro da viagem é feito por traficantes de ópio, cigarros e peças de carro roubadas, sendo longo e perigoso. Eles entram no Irão escondidos em camiões e vão a pé pelas montanhas do Curdistão até chegarem à Turquia. Em Istambul a dupla consegue emprego, com o objectivo de conseguir dinheiro para pagar a próxima etapa da viagem: uma viagem de navio até a Itália.

Este filme colocá-nos a pensar no percurso, nos obstáculos, no risco que muitos emigrantes passam para ter uma vida melhor!