terça-feira, 16 de setembro de 2008

O método em Filosofia

Imagem retirada da net





"No que diz respeito ao método, a filosofia aspira a ser uma explicação puramente racional de toda a totalidade que se coloca como objecto. Em filosofia é válido o argumento da razão, a motivação lógica, o logos. Para a filosofia não suficiente constatar ou comprovar dados de facto, reunir experiências, para encontrar a causa ou as causas, precisamente através da razão. Este é carácter que confere cientificidade à filosofia. Dir-se-á que este aspecto também é comum às demais ciências, que, enquanto tais, nunca são uma mera comprovação empírica, mas em todos casos uma procura de causas e razões. A diferença reside no facto de que enquanto que as ciências particulares são investigações particulares ou de sectores particulares, a filosofia é a investigação racional de toda a realidade (do princípio ou princípios de toda a realidade). Com isto fica clara a ideia a diferença entre a filosofia, arte e religião. Também a arte e as grandes religiões aspiram a captar o sentido da totalidade do real mas aquela fá-lo por meio do mito e a fantasia, e estas através da crença e da fé. (...) Pelo contrário, a filosofia procura a explicação da totalidade do real precisamente no logos.
O objectivo ou finalidade da filosofia, por último, reside no puro desejo de conhecer e de contemplar a verdade. Em definitivo, a filosofia grega constitui um amor desinteressado à verdade. Segundo Aristóteles, os homens, ao filosofar, "buscavam o conhecimento com a finalidade de saber, e não para conseguir um uso prático". De facto, a filosofia nasce unicamente após os homens terem solucionado os problemas fundamentais da sobrevivência e se terem libertado das necessidades materiais mais urgentes. "É evidente, pois – conclui Aristóteles –, que não procuramos a filosofia por algum proveito que seja a esta; assim como chamamos homem livre àquele que é um fim em si mesmo e que não está subjugado por outros, assim, também só a Filosofia entre todas as outras ciências, recebe o nome de livre: só ela é um fim em si mesma. Fim em si mesma porque tem vista a verdade procurada, contemplada e desfrutada como tal. Entende-se, portanto, a afirmação de Aristóteles: " Todas as demais ciências são mais necessárias do que esta, mas nenhuma será superior." (...)
Impõe-se contudo uma reflexão: a contemplação que é peculiar da filosofia grega não equivale a um otium vazio. É verdade que não se encontra submetida a fins utilitários, mas possui uma relevância moral – e inclusive política – de primeira ordem. É evidente que, ao contemplar o todo, se alteram necessariamente todas as perspectivas usuais, transforma-se a visão do significado da vida humana e aparece uma nova hierarquia de valores."
Giovanni Antiseri, Historia del Pensamiento cientifico y filosófico, Editoral Herder, Barcelona

1. Quais são os factores que segundo o texto conferem legitimidade à Filosofia?
2. Estabeleça uma comparação entre o método utilizado pela ciência e pela filosofia.
3. Torne evidente, segundo o texto, a diferenças essenciais entre Filosofia, Religião e Arte.


(Retirado do site Netprof)

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