segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Para que serve filosofiar?



Foto retirada da Net






Vivemos num mundo cada vez mais materialista e interrogamo-nos cada vez menos sobre questões essenciais. Acham que perdemos a capacidade de filosofar?


Pedro Amaral (PA): Eu acho que não. Primeiro, porque a capacidade individual que cada um tem de se questionar é intemporal. Depois, e ao contrário do que possa parecer, porque uma sociedade materialista incita à reflexão.
José Pedro Serra (JPS): Podemos colocar a pergunta num plano puramente sociológico e tentar saber até que ponto as condições concretas em que vivemos permitem, a cada um de nós, um pensamento efectivo, e não apenas o uso mecânico da razão. No entanto, antes desse plano sociológico, eu vejo a filosofia, não como uma capacidade, mas como uma fatalidade. Desde que o gregos inventaram "isso" da filosofia que ela corresponde a um modo de interrogação, que não depende de uma capacidade nossa, mas é herdeira de uma história que é a nossa história. A nossa história é filosófica e, nesse sentido, não há outra forma de estar senão dentro do trilho da filosofia. O que podemos, então, discutir é até que ponto as condições concretas do momento favorecem o exercício de um pensar. Não tenho dúvidas, qualquer que seja o juízo sobre a nossa civilização, que nascemos no poço de Tales de Mileto e que não é possível libertamo-nos dessa fatalidade. Perguntar "o que é" situa-nos no trilho da filosofia. Foi a filosofia que nos ensinou a perguntar "o que é". Os gregos diziam que esse momento radicava no espanto (...)
PA: Qual é exactamente e expressão do espanto de que falava há pouco?
JPS: É a pergunta. A pergunta nasce do espanto.
Mas o espanto pode dar-se a vários níveis... Pode ser um espanto perfeitamente comum.
JPS: Mas o que eu acho é que temos estado a dizer, que as pessoas não pensam, ou pensam pouco.
Não é bem que não pensam, é que não se questionam...
JPS: Sim, mas qual a diferença entre isso e os diálogos socráticos escritos cinco séculos antes de Cristo? Aquilo que Sócrates fazia na rua o que era senão pôr os outros a pensar? O que é a "Republica" de Platão senão a tentativa, em última análise, de conduzir aqueles não pensam? Não vejo grande diferença entre o que se passava ontem e o que se passa hoje. Isto é, o movimento que faz nascer esse pensar é um movimento de sofrimento, é um parto, um parto muito doloroso. Ontem, como hoje, o filósofo morreu. Quem ganhou foram os sofistas. Também aconteceu no tempo de Sócrates. A retórica política de que estamos a falar não é uma invenção do século XX, ou XXIPerdemos a capacidade de filosofar?



In Revista Pública, 07-10-2007





1. O que significa afirmar que a Filosofia corresponde a um "modo de interrogação"?
2. Explicite a importância do conceito de espanto para o exercício da actividade filosófica.
3. Considera que, tal como é referido no texto, o filósofo morreu na época contemporânea. Justifique a sua opinião.



(Ficha retirada do site Netprof)

Sem comentários: